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MESTRE LU KUNG - CONFÚCIO - mãe e filha

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Certo dia andava Confúcio pelas margens silenciosas do rio Amarelo, colhendo, aqui e ali, um crisântemo, atordoado pelas libélulas, quando se aproximaram dois camponeses, em cuja humildade a experiência leu, desde logo, os sinais da perfídia.

Este homem, disse o primeiro, tem em dúvida a tua sabedoria. E como eu lhe afirmasse que tu jamais te enganarias, venho pedir-te, Mestre, que nos acompanhes até a aldeia próxima, onde o povo aguarda a tua santa palavra para a definitiva solução de uma contenda.

Colhendo, aqui e ali, um crisântemo, o sábio tomou, sem pressa o caminho do povoado. A barba, lisa e grossa, tombava-lhe pelo peito largo, orlando-lhe o rosto de bronze. E foi assim, com a calma nos gestos e a serenidade no coração, que parou, com os dois guias, à sombra de uma cerejeira, em torno à qual os homens se amontoavam.

Amarradas ao tronco da árvore, duas ovelhas olhavam a turba que as cercava, indagando, com os olhos inocentes, o motivo daquela curiosidade.

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Entre o silêncio de todos, o homem sem fé explicou o motivo da disputa: - Estas duas ovelhas, Mestre, são mãe e filha. São, porém, tão semelhantes em tudo, que ninguém poderá dizer qual a filha, qual a mãe.
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Eu assegurei, porém, que a tua sabedoria venceria a dificuldade, esclarecendo essa dúvida de todos nós. Quieta, olhos pregados no solo, a multidão esperava ansiosa, a opinião do Mestre.

Sem uma palavra, Confúcio afastou-se alguns passos, colheu na terra agreste um punhado de relva úmida, e atirou-a ao chão, entre as duas ovelhas.

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Uma baixou a cabeça, cheirou a erva e empurrou-a, com o focinho para a outra.

Esta baixou a boca, e principiou a comer.

Silencioso o bom filósofo acompanhava, com os olhos, o gesto manso dos animais.

Ao fim de alguns minutos, estendeu o dedo, e indicou a ovelha que devorava o capim. Esta é a filha, disse. Porque só as mães se privam do alimento para matar a fome dos filhos!

E voltou para a campina, espantando as libélulas.

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Confúcio

(551 a.C - 479 a.C)

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Nascido em aproximadamente 551 a.C., Confúcio era descendente de uma família nobre, mas que ocupava, na época, uma posição pouco significativa, diríamos das camadas mais baixas da nobreza no estado de Lu, no sudoeste da China.
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Ao cabo de um grande esforço intelectual e retidão moral, Confúcio logo obteve a fama de excelente professor e, com isso, foi tomado como preceptor e mestre dos filhos de um alto dignatário da Casa Real de Lu, seu estado natal e, por capricho do destino, o real mandatário daquelas terras.

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O seu sucesso como professor e homem de idéias o levou, posteriormente, a ocupar um cargo de maior envergadura pública, algo ao qual ele aspirava há anos para por em marcha seu plano de reformas sociais. Foi como administrador público que sua fama obteve grande repercussão, na descrição dos "Analectos":

Ele baixou regulamentos para a efetiva alimentação dos vivos e para o enterro dos mortos. Velhos e jovens recebiam comida diversificada, fortes e fracos tinham funções diferenciadas.

Para Confúcio era por demais óbvio que uma boa administração deveria não só zelar pelo bom andamento da coisa pública, mas e principalmente cuidar dos meios de uma vida digna e feliz para seu povo, pois o Estado é que foi feito por e para o povo. 

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Para Confúcio, assim como pouco mais adiante faria Platão e, bem depois, tentaria Maquiavel com pontos de vista bem menos idealistas, sua compreensão da boa forma de administração o obrigava ao papel de professor e exemplo para príncipes e reis em toda a China.

Não que ele quisesse ser um deles, mas sim pela obrigação de lembrar-lhes que eles tinham nascido para cumprir um papel e uma obrigação profunda para com o Estado, nunca devendo esquecer que são eles os representantes não tanto de seus interesses, mas do povo ao qual têm a obrigação de governar, até mesmo para o seu próprio bem-estar.

As idéias de Confúcio, apesar te terem iniciado um período de relativa paz entre Lu e estados vizinhos, bem como crescente contentamento popular, foi vista com desconfiança por outros senhores feudais, pois, se elas extravasassem as fronteiras de Lu, poderiam ameaçar o poder de outros senhores bem menos voltados à reformas sociais.

Para poderem emperrar o processo de reformas, alguns senhores resolveram usar de um estratagema que se mostrou extremamente eficaz. Eles resolveram presentear o senhor de Lu com um grupo das mais belas e talentosas jovens de seus domínios. O jovem e volúvel senhor de Lu ficou de tal modo encantado com os dotes artísticos e sexuais das jovens que, simplesmente, cancelou todas as suas funções por quase uma semana, tendo, ainda, negligenciado suas tarefas nos meses posteriores.

Isso foi um duro golpe à imagem de austeridade altruísta que as Reformas de Confúcio tinham iniciado, e não restou ao ferido Mestre Kung outra alternativa que não o de abandonar a corte. Desde então, Confúcio iria percorrer parte da China buscando por um outro príncipe que lhe permitisse reiniciar suas reformas em outra corte, sem sucesso, por treze anos ininterruptos. 
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Acreditando que sua proposta acabaria por ser ouvida por algum senhor feudal, Confúcio perambulou, junto com seus discípulos mais chegados, por boa parte do centro-sul da China. Frustrado e abatido, o Mestre Kung, apesar de ser ouvido com admiração por muitos, não logrou conquistar seu intento. Precedido quase sempre pela propaganda formulada por seus inimigos.  

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Freqüentemente Confúcio era ouvido sendo, por trás, ridicularizado. Diante da incompreensão, inveja e despeito, suspirava Confúcio:

Não posso conviver com os pássaros e com os animais selvagens; e se não me é permitido conviver com essa geração humana, com quem então? Se o mundo estivesse em ordem, não necessitaria de alguém teimoso como eu para modifica-lo.

Cansado e convencido da estreiteza de visão dos soberanos de sua época, Confúcio decide voltar à sua terra, como mestre público, dedica-se a divulgação das idéias da tradição mais nobre da China. O papel da propaganda contra as idéias de Confúcio conseguiu seu intento.

Retornando à sua província natal, Confúcio estava já chegando aos setenta anos de idade. Alguns de seus discípulos conseguiram cargos importantes em carreiras públicas, mas o velho mestre já havia desistido qualquer trabalho nesse sentido.

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Resolvera  dedicar-se unicamente ao magistério, vivendo do que lhe davam os alunos e discípulos, nada cobrando, porém, dos mais pobres. Foi nesta época que ele se dedicou a escrever textos próprios e a organizar os livros clássicos chineses, entre eles, o I Ching. 
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As lutas internas na China deixaram ainda mais tristes os últimos dias de Confúcio sobre a terra. Frustrado e desesperançado, ele acreditava que sua vida tinha sido inútil. Chegou a expressar sua desesperança de forma tocante neste texto: "O pássaro Feng" (o equivalente chinês da mitológica ave Fênix) "não vem; as mutações não trazem nenhum plano básico. Eu estou acabado".

Confúcio morreu no ano 479 a.C. Seus discípulos coletaram seus escritos e os registros de seus discursos e levaram adiante a mensagem do mestre de uma Ética para a paz da China.

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Hoje, o confucionismo é a principal escola filosófica do país, e não foi a toa que a Revolução Comunista de 1949 teve ampla aceitação e ampla resistência do Ocidente, já que as principais metas a que se propunha era restaurar a dignidade da China:

perdida pelo domínio dos países europeus que faziam da China um quintal onde explorar riquezas e mão de obra especializada) e reerguê-la tendo com máxima o bem estar coletivo, em moldes muito próximos ao que sonhava Confúcio.

Estas são algumas transcrições dos ensinamentos de Confúcio, apenas para se ter uma idéia de seus ensinos:

  • Um jovem em casa deve amar os pais, e fora de casa respeitar os velhos.

  • Deve ser discreto mas, ao mesmo tempo, falar com convicção quando se fizer necessária a sua ação.

  • Deve amar a todas as pessoas, sem distinção, e alegrar-se com as pessoas de bom coração. 

  • Se assim se portar, terá condições de bem se governar e a outros.

  • Se tiverdes acesso à fama, comporta-te como se estivesses a receber um hóspede. 

  • Se estiverdes no governo de um povo, comporta-te como se estivesses pronto a oferecer um grande sacrifício. 

  • Para onde quer que fores, vai todo, leva junto teu coração. 

  • Não te suponhas tão grande ao ponto de pensares ver os outros menores que ti. 

  • Lembre sempre que existes porque existiram outros antes de ti. 

  • Se queres demonstrar como queres ser tratado, trata desta forma primeiro aos demais. 

  • Se o povo for conduzido apenas por meio de leis e decretos impessoais e se forem trazidos à ordem apenas por meio de punições, ele apenas procurará evitar a dor das punições, evitando a transgressão por medo da dor. Mas se ele for conduzido pela virtude e trazido à ordem pelo exemplo e pelos ritos em comum, ele terá o sentimento de pertencer a uma coletividade e o sentimento de vergonha quando agir contrário a ela e, assim, bem se comportará de livre e espontânea vontade".

Uma vez perguntaram a Confúcio: - O que o surpreende mais na humanidade?

Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por não viver no presente nem no futuro. Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido...

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