Adolescência e as Drogas

 

Dra. Silvana Baumkarten - Psicóloga UPF (RS)
Especializada no tratamento da família e Drogas, com especialização nas Causas e Relacionamento. Seus artigos compôem o acervo deste Portal de "Aconselhamento e Orientação", para os problemas sociais de Alcool e Drogas, dirigido para os maiores formadores de Opinião - Os Profissionais de Vendas", com apoio do Jornal "SDR".

Adolescência e as drogas

- Por que o primeiro contato de com as drogas ocorre na adolescência, ou até antes dela?
- O que se passa nesta fase da vida que torna o jovem tão vulnerável ao uso de drogas?

A adolescência é uma etapa de crise, onde o adolescente busca sua identidade, que pode ser descrita como:
- um período agitado e cheio de conflitos;
- fase de incertezas e angústias;
- fase de extrema sensibilidade e labilidade emocional;
- fase de imaturidade e necessidade de proteção;
- período de revolta, de oposição, de colocar em causa os valores dos adultos.

Provavelmente essa crise da adolescência não seja igual para todos, potencialmente alguns adolescentes podem passar por essa fase tão rica da vida com mais tranqüilidade. Falar somente da crise de adolescência com a confusão da imagem corporal, fase de revolta, de provocação, de depressão, parece incompleta.

A adolescência é também o período mais sensível e complexo do desenvolvimento humano. Período de vida rico, livre, exaltante, idade das paixões, onde o jovem vive uma ligação passional com a vida – ligação perigosa, mas também criadora.

A adolescência, fase de grandes aquisições e desenvolvimento qualitativo, mas que também pode ser uma passagem difícil e cheia de conflitos para muitos jovens. Nesta fase da adolescência, podem aparecer as primeiras experiências com as drogas (claro que muitos experimentam, mas poucos se tornam drogaditos).

que se passa na adolescência de alguns jovens, que procuram nas drogas respostas e alívios às suas angústias?

Alguns adolescentes encontram respostas para suas questões e angústias no seu ambiente e nas suas relações, mas alguns não a encontram. Muitos adolescentes parecem procurar as respostas e o alívio dessas angústias nas drogas.

Assim pergunta-se: O que leva um adolescente a esta experiência com as drogas?

Os adolescentes no geral associam o uso de drogas com o alívio de sofrimentos, de angústias e de ansiedade, e a problemas familiares. A droga é vista também como recurso de integração ao grupo de pares, como alternativa na falta de outras atividades prazerosas. A curiosidade é destacada igualmente como motivo de procura.

Assim, pode-se falar de três ordens de motivações para o uso de drogas:
- aliviar a dor – física e psíquica – e a angústia;
- proteção contra dificuldades da vida;
- afastar a ameaça desenvolvida nas relações com os outros.

As drogas têm essas propriedades, reais ou ideais, de trazer respostas a todos os tipos de aflições e necessidades. As drogas intervêm sobre a gênese dos afetos e emoções internas ligadas aos contatos sociais e elas satisfazem vários registros de necessidades ao mesmo tempo: aquele da excitação psicocorporal e da descarga sensorial; aquele do desapego com uma parte da realidade; aquele da anestesia de um sofrimento interno; aquele do risco e da ultrapassagem de fronteiras.

Podem ainda ser apontados cinco efeitos importantes buscados no consumo de substâncias psicoativas – tratando-se em todos os casos de modificar a sensação, o humor ou a percepção. As modificações buscadas/procuradas consistem em:

- aliviar a dor;
- reduzir uma atividade ou sensação desagradável ou indesejável;
- aumentar o nível de atividade e a sensação de energia e de eficácia, reduzindo a sensação de fadiga, depressão e sonolência;
- modificar a percepção e orientação do eu frente ao meio físico e social;
- atingir diversos níveis de embriaguez, de atordoamento, de euforia.

Inicialmente a droga, para os jovens, tem a função de vínculo e de satisfazer a curiosidade e a necessidade de transgredir limites e de buscar novos conhecimentos e sensações.

Depois de um tempo de uso, isto é, na medida que conhecem as drogas e seus efeitos, a droga começa a assumir também outras funções:

- obter prazer,
- diversão,
- aumentar o desempenho em certas atividades (como no trabalho),
- aliviar sofrimentos,

apaziguar sensações consideradas indesejáveis ou desagradáveis, bem como alteração dos estados de consciência, numa tentativa de fuga da realidade e extrapolação dos limites.

Ocorre, assim, também a escolha de drogas de acordo com a função ou efeito procurado e desejado, geralmente um efeito positivo e agradável.

Por exemplo, conheci um rapaz que usava cocaína no trabalho para render mais e se concentrar melhor, na saída fumava maconha para tranqüilizar e relaxar. Nas festas de final de semana preferia o LSD, pois o efeito era de alegria e descontração, durável e não deixava vestígios de uso e já para "pedalar" (andar de bicicleta com a turma) preferia a maconha, pela sensação de bem estar e de seu efeito relaxante.

Os adolescentes buscam no uso de drogas a satisfação de certas necessidades, buscam nas drogas novas sensações, sentir "algo mais", ser diferente, alívio de angústias e sofrimentos, afastar pensamentos ruins, preencher um vazio, encontrar amigos e namoradas. O uso de drogas persiste, porque ela necessariamente cumpre uma ou várias funções e responde a certas necessidades.

O consumo de drogas, que no entender dos adolescentes atuam sobre as sensações, os afetos e propiciam contatos sociais, não é vivenciado como um problema, mas como uma solução encontrada por eles.

Assim, os adolescentes consomem drogas para a obtenção de prazer, acabar com o tédio, aumentar suas capacidades e eficácias, bem como o alívio e afastamento de sentimentos ou sensações consideradas desagradáveis. Isto é obtido por eles, por meio do consumo de diversas drogas, que lhe trazem sensações agradáveis, o alívio desejado, através da alteração de seus estados de consciência, alteração da percepção de si e do ambiente, com sensações de relaxamento ou excitação.

Os atuais consumidores de drogas pretendem, mais do que afastar-se da realidade em busca de mundos intelegíveis, aumentar seu poder e eficácia sobre o mundo imediato que os rodeia, esforçando-se por obter e manter um determinado status.

O adolescente consumidor de substâncias psicoativas busca uma excitação de sua sensibilidade para alentar idéias fusionais, megalomaníacas, ânsias de poder e triunfo que negam no plano do desejo a miséria provocada pela cotidiana frustração. - Isto vem ao encontro da fala de um outro adolescente que conheci:

"o que eu mais gostava na cocaína, era a sensação de poder que ela me dava".

Vivendo numa sociedade que dá grande valor ao êxito e ao triunfo pessoal, o uso da droga parece ser um dos recursos para alcançar esse êxito e progresso, ou talvez também para afastar as frustrações geradas pelo insucesso. Vê-se aqui uso de drogas como válvula de escape de uma sociedade competitiva, restando àqueles que não triunfam, a compensação do insucesso com o consumo de drogas.


Dra. Silvana Baumkarten - Psicólogia UPF (RS)
Diretora do projeto "Antes das Drogas...Conhecimento, Carinho e Companhia"

.