biblioteca exclusiva da univ. wharton . Profissionais de marketing devem buscar a riqueza da base da pirâmide” . Para os gerentes de marketing mais experimentados das maiores empresas multinacionais do mundo, não há dúvida sobre quem são seus clientes:
O raciocínio é simples:
Mas, e quanto aos pobres do mundo? Deles podem muito bem cuidar os governos e as organizações sem fins lucrativos. Não vale a pena o desgaste de tentar vender o que quer que seja para essa gente.
C. K. Prahalad, professor de estratégia corporativa da University of Michigan Business School vê a questão de uma perspectiva totalmente distinta. Em livro de sua autoria, The fortune at the bottom of the pyramid: eradicating poverty through profits (Riqueza na base da pirâmide: erradicando a pobreza por meio de lucros). . Prahalad sustenta que as empresas multinacionais não apenas podem ganhar dinheiro vendendo às populações mais pobres do mundo, como também devem se esforçar para isso, como forma de diminuir o fosso cada vez maior entre países ricos e pobres. No livro, um dos primeiros volumes da Wharton School Publishing, um selo resultante da colaboração da Wharton School com a Pearson Education, uma unidade de negócios da Pearson, empresa internacional de mídia responsável pela publicação do Financial Times. .
Apesar do fato de que estas populações subsistem com rendas per capita anuais inferiores a US$ 1.500, essa “base da pirâmide” representa um mercado estimado em vários trilhões de dólares. Juntas, nove nações em desenvolvimento:
O autor interessou-se pela primeira vez pelo assunto em 1995. Na ocasião, se perguntava como era possível que os negócios permitissem o desenvolvimento de recursos tecnológicos de maneira tão extraordinária enquanto tantos no mundo eram tão pobres. A experiência pessoal de Prahalad, acumulada em suas viagens pelo mundo e nas consultorias dadas a empresas multinacionais, levaram o autor a buscar por evidências de que as grandes empresas poderiam ter um impacto significativo nas nações em desenvolvimento..
O autor espera que o livro tenha boa acolhida junto a um público bastante amplo de executivos de grandes empresas, professoras de escolas de administração, representantes, estudantes e agências governamentais de desenvolvimento.
Além disso, o autor acrescenta que integrou uma comissão das Nações Unidas liderada pelo secretário-geral da entidade, Kofi Annan, cujo propósito era o de analisar o desenvolvimento do setor privado. A comissão deverá apresentar em breve o seu relatório. Já é possível perceber, “o impacto deste tipo de reflexão”. . O autor insiste com as empresas multinacionais para que não raciocinem unicamente em termos de lucros ao elaborar suas estratégias, produtos e serviços destinados à base da pirâmide. Citando números das Nações Unidas, destaca que:
Toda estratégia dirigida à base da pirâmide terá, necessariamente, de criar empregos e melhorar os níveis de renda destes indivíduos, ajudando com isso a desacelerar e, possivelmente, a reverter o abismo cada vez maior entre ricos e pobres. Sem dúvida estratégias deste tipo poderão evitar a deterioração social, o caos político, o terrorismo e a degradação ambiental. . Um dos principais motivos para que as multinacionais evitem a base da pirâmide é que não é fácil fazer marketing para populações pobres.
. Sal, sabonete e a Hindustan Lever LIMITED:
Contudo, dois anos depois, o governo da Índia se viu obrigado a empreender uma campanha rigorosa para combater um problema de saúde denominado “Transtorno por Deficiência de Iodo”, um dos principais causadores de transtornos mentais em todo o mundo e responsável, entre outras coisas, pela ocorrência de retardamento mental e de baixo Q.I.
Em 1997, o governo da Índia proibiu a venda de sal sem iodo. O problema, porém, era que os métodos tradicionais de iodização do sal, de modo geral, eram ineficazes em virtude do processo de lixiviação por que passava o iodo com o decorrer do tempo, principalmente por causa das condições primitivas de armazenamento e transporte vigentes na Índia.
Resolvido o problema tecnológico, a Hindustan Lever voltou sua atenção para o marketing do Annapurna, agora reformulado. O público alvo das classes pobres eram as mães entre 25 e 40 anos responsáveis pela preparação dos alimentos e pelas compras de itens comestíveis do lar. A mensagem era que o “iodo estável” do sal Annapurna “não se perdia”, e por isso podia ajudar as famílias a permanecerem saudáveis. Embora o sal Tata continue a ser a marca dominante com 19% do mercado, a Hindustan Lever ocupa agora o segundo lugar já próximo do Tata, com 14% de mercado, sendo que, no sul do país, já é a marca principal. . A Hindustan Lever empregou uma estratégia mais ou menos semelhante descoberta pelo marketing, de um benefício para a saúde no caso de outro produto, o sabonete, o que permitiu à empresa aumentar suas vendas na Índia. Embora a AIDS e a SARS tenham dominado os noticiários nos últimos anos, a diarréia, que ocupa a 3ª posição entre as principais causas de morte do mundo, recebeu pouca atenção.
A Hindustan Lever há muito tempo propaga na Índia os benefícios à saúde de sua marca centenária, a Lifebuoy. No início, a fórmula do sabonete tinha um forte aroma carbólico que era associado à limpeza. Todavia, os benefícios do produto para a saúde ficaram obscurecidos com o passar do tempo à medida que os concorrentes também alardeavam os benefícios do seu produto para a saúde, além de acrescentar a este discurso um elemento embelezador, sobretudo com a introdução de mais fragrâncias florais.
Com a nova fórmula em mãos, a HLL tinha de pensar em uma forma de vender o produto a uma clientela constituída principalmente por moradores da zona rural. Havia duas dificuldades a vencer.
A solução encontrada pela HLL foi contratar equipes de "facilitadores" que percorreriam em duplas as escolas das aldeias e, inicialmente, instruiriam os jovens entre 5 e 13 anos sobre os problemas que podem ser causados por germes invisíveis e como eles podem ser quase que totalmente eliminados se as mãos forem lavadas com sabonete. Em seguida, os pais e os anciãos das aldeias recebiam informações semelhantes. . Com base nos primeiros dados disponíveis, as vendas de sabonete da HLL estão aumentando não apenas em áreas onde a empresa iniciou o marketing com duplas de facilitadores, mas também em outras partes da Índia. Os gerentes estão convencidos de que sua oferta de sabonetes aos pobres estabelece uma diferenciação em relação ao produto e abre oportunidades de crescimento por meio da utilização mais freqüente do produto . . CEMEX: CRÉDITO E CONCRETO: - Ao longo da história, o crédito comercial jamais esteve disponível aos pobres. Contudo, de acordo com os economistas, ele é componente fundamental de qualquer economia de mercado. . O acesso ao crédito nos EUA permite que até mesmo pessoas de posses modestas comprem itens de vulto, como casas, carros e freqüentem cursos pagos. . A Cemex é a maior fabricante de cimento do México e a 3ª maior empresa do setor no mundo. Trata-se de uma empresa de tecnologia sofisticada, cuja vantagem competitiva decorre de uma infra-estrutura de distribuição que monitora o movimento de cada caminhão em tempo real, para assegurar que seu produto seja entregue no prazo previsto. A empresa vende cimento em dois mercados distintos:
A empresa decidiu então não ser mais refém dos ciclos da construção civil, e passou a enfatizar o mercado de uso direto do produto. A Cemex percebeu que a principal diferença entre os dois mercados era a receita média por cliente. Vendas modestas, porém estáveis, a indivíduos com níveis de renda inferiores a US$ 5 ao dia, geravam receitas extraordinárias.
Era óbvio que se os clientes que faziam uso direto do material em questão tivessem acesso ao crédito, eles poderiam se dedicar mais integralmente à construção, e com uma freqüência maior, do que se tivessem de esperar até ter condições de pagar pelo preço total do cimento de uma única vez. Em 1998, a Cemex lançou um programa experimental denominado Patrimonio Hoy, cujo propósito era permitir que pessoas pobres pagassem pelos materiais de construção e pelos serviços necessários para a realização de melhorias em suas casas.
No final de cinco semanas, a Patrimonio Hoy fez a primeira entrega de matéria-prima, estimada em dez semanas de coletas realizadas. O programa, portanto, concede cinco semanas de crédito aos membros da sociedade, fortalecendo com isso a credibilidade do grupo em meio à comunidade. . Se os membros da sociedade permanecerem comprometidos com o programa, o crédito recebido sob a forma de matérias-primas ainda não pagas aumenta. No segundo período de dez semanas, por exemplo, a matéria-prima é entregue depois da segunda semana, garantindo assim, na verdade, oito semanas de crédito. . As margens dos distribuidores da Cemex que participam do programa Patrimonio Hoy são, via de regra, menores 12%, em alguns casos do que os 15% em média do negócio. Todavia, o entusiasmo dos distribuidores não é menor por causa disso, uma vez que margens menores são mais do que compensadas pela demanda estável por cimento e outras matérias-primas, como areia e cascalho.
Depois de três anos de operação, a Patrimonio Hoy contava com 36.000 clientes e mais de US$ 10 milhões em créditos concedidos. A base de clientes, segundo informações, vem crescendo a uma taxa de 1.500 a 1.600 ao mês. . .. Fazendo contato com os pobres: - Os avanços tecnológicos, sobretudo nas áreas de computação e de comunicações, parecem ocorrer quase que totalmente no mundo desenvolvido. É certo que a Índia e algumas ilhas do Caribe são fornecedores de mão-de-obra para sofisticados call centers e, no caso particular da Índia, existe ali uma indústria próspera de desenvolvimento de software. Contudo, os empregados destas empresas têm, de modo geral, excelente preparo educacional e provêm dos extratos de classe média ou de segmentos afluentes da sociedade.
Contudo, no momento em que a tecnologia tornou-se acessível a estes indivíduos, Prahalad deparou com membros da base da pirâmide dispostos a aceitá-la. Em Bangladesh, empreendedoras com telefones celulares prosperam rapidamente cobrando por minuto dos demais habitantes daquela localidade pelo uso de seu aparelho celular. Na verdade, Prahalad vê na difusão dos aparelhos sem fio a prova do tamanho e da viabilidade do mercado da base da pirâmide.
Onde houver conectividade, será maior a eficiência das ocupações tradicionais. Transcorridos três meses desde que foram instalados PCs em algumas aldeias indianas, os agricultores tomavam decisões sobre o plantio com base nos preços futuros cotados pela junta comercial de Chicago. Em Kerala, na Índia, imagens de satélite de cardumes de peixes são descarregadas em PCs da aldeia e, em seguida, lidos e interpretados por mulheres que orientam então seus maridos sobre onde pescar.
Para Prahalad, todos estes exemplos mostram que há soluções de mercado para o problema da pobreza. A tarefa que ele coloca em seu livro para as empresas multinacionais consiste em romper com a lógica dominante, segundo a qual os pobres do mundo não passariam de uma diversão para os governos e as organizações sem fins lucrativos.
Os resultados de tais esforços não somente serão compensadores para as grandes corporações e para os consumidores, como também contribuirão com soluções para os graves problemas políticos e ambientais que desafiam o mundo desenvolvido. ... |
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