Seu
chefe não concorda? Talvez seja um caso de Obstinação induzida pela
personalidade
.
sala dos artigos de gerenciamento
.
Foi na época da recontagem de
votos na Flórida, por ocasião da eleição presidencial, que
Lisa Bolton,
professora com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
percebeu que ninguém parecia escutar coisa alguma. Ela assistiu ao debate
emocionante em que democratas e republicanos, sufocados pela aflição e com o
rosto em brasa, não cediam um milímetro sequer. O mesmo aconteceu quando o novo
governo anunciou pouco depois que faria perfurações em busca de petróleo no
Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Ártico, os ambientalistas se posicionaram
de um lado e os republicanos, de outro.
Eu assistia a tudo isso e
pensava: Não há ninguém disposto a reconsiderar o que pensa. Não há um único
ponto de concordância.
Enquanto isso seu colega
Americus Reed,
professor com PHD em marketing da
UNIV. Wharton,
volta e meia entrava em seu escritório filosofando sobre o
"poder da identidade"
sobre o fato de que as decisões, o consumidor e tudo o mais acham-se intimamente
relacionados com a identidade do indivíduo.
Bolton
começou então a refletir sobre as palavras de
Reed
associando-as ao debate político nacional. Vieram-lhe então à mente inúmeros
outros contextos:
por que tantos fumantes
continuam a fumar apesar de décadas de alerta sobre os malefícios do fumo à
saúde?
Por que as motocicletas
Harley Davidson e as roupas de
Ralph Lauren suscitam tanta lealdade entre
determinados indivíduos?
Por que os adolescentes e seus
pais parecem estar sempre em pé de guerra e nunca param para escutar uns aos
outros?
Depois de quatro experiências,
Bolton e Reed
descobriram algumas respostas que comprovaram de fato que as opiniões associadas
à identidade do indivíduo seja ele adolescente, republicano, ambientalista ou
empresário são praticamente imutáveis, como se estivessem
“grudadas”
nele. Em recente pesquisa a ser publicada numa próxima edição do
Journal
of Marketing Research,
Bolton e Reed
analisam com detalhes a identidade social, desde os seus efeitos sobre a atitude
dos indivíduos diante de novos produtos até opiniões de caráter social e
político sustentadas por eles.
Com o título de “Primazia do
comportamento obstinado: persistência dos efeitos da identidade sobre a
opinião”, os quatro estudos do ensaio analisam opiniões a respeito de várias
questões e produtos, tais como poluição, legalização da maconha e livros
eletrônicos associados a diferentes identidades ambientalista, executivo ou
pais.
Bolton
e Reed procuraram em
seguida minar as opiniões dos participantes recorrendo a técnicas que iam desde
raciocínios imparciais
(baseados em uma lista de prós e
contras) até a
adoção da perspectiva de uma outra identidade
(por exemplo, pais x adolescentes).
Não tiveram grande êxito. A influência social, a velha e boa pressão dos
colegas, foi relativamente eficaz no combate à opinião baseada na identidade,
mas não totalmente, reconhece Bolton. No decorrer do processo, constatamos que a
identidade é de fato poderosa em sua influência sobre a opinião do indivíduo. De
nada adianta chegar a uma pessoa e dizer:
.
Vamos lá, encare as evidências. Se
ser fumante é algo que faz parte de nossa identidade, podemos ler tudo que há no
mundo sobre inúmeros fatos mais do que comprovados sobre câncer e doenças do
coração, mas será muito difícil mudar de atitude em relação ao fumo porque se
trata de algo profundamente arraigado na definição que temos de nós mesmos,
observa Bolton. A identidade é um filtro viciado que exclui informações, outras
perspectivas, bem como qualquer influência social que não combine com ela.
Identidade e fidelidade à marca:
A mensagem
para os profissionais de marketing, diz
Bolton,
é que a identidade é um meio poderoso para a construção da fidelidade à
marca. Ela resiste ao contra-ataque da concorrência. Argumentos do tipo
‘Minha marca é melhor por causa disso e daquilo, provavelmente não são
suficientes para derrotar um concorrente cuja atitude esteja fortemente
radicada na identidade. Ela é uma boa base para a construção da fidelidade à
marca, porque resiste à mudança, observa Bolton.
.
Marqueteiros talentosos há muito recorrem a mensagens calçadas na
identidade, seduzindo os consumidores com produtos e marcas que
simbolizariam traços de sua própria personalidade ou traços a que aspiram.
Ralph Lauren,
por exemplo, construiu um império vendendo de tudo, de tinta a perfume às
classes mais abonadas. Uma pesquisa prévia demonstrou igualmente que o
consumidor sente-se atraído com freqüência por produtos e marcas associados
à sua identidade. Porém, o trabalho de
Bolton e Reed,
de acordo com pesquisadores, é o primeiro a demonstrar a força incomparável
da identidade.
Cremos que somos os primeiros a
pegar uma opinião calcada na identidade e submetê-la à prova de inúmeras
técnicas, revelando com isso sua força, diz Bolton. De acordo com o
estudo, a preferência por marcas baseada em uma identidade importante
colará com muito mais força nos indivíduos. Portanto, saber como
recorrer à identidade do consumidor como parte do posicionamento do
produto é um referencial importante da fidelidade à marca. Se uma marca
puder ser associada a aspectos essenciais do conceito que o consumidor
tem de si mesmo, este passará a vê-la como parte dele, isto é, como uma
extensão do seu eu.
No caso dos profissionais de
marketing preocupados com a melhora do bem-estar do consumidor, os estudos
apresentam evidências de que mensagens de censura, como a publicidade contra
o fumo que inunda o consumidor de alertas sobre os riscos do tabaco à saúde,
podem ser totalmente inócuos. jovens e adolescentes simplesmente não reagem
a esse tipo de mensagem, diz Bolton. Eles não se consideram de modo algum
ameaçados; além disso, a mensagem não ataca as razões que os levam a fumar.
Uma abordagem mais eficaz, de acordo com os pesquisadores, deveria propor
uma contra-identidade capaz de seduzi-los como, por exemplo, o incentivo à
aquisição de hábitos saudáveis vinculados ao atletismo; ou ainda, inocular
nos mais jovens mensagens antitabagistas antes que comecem a pensar no fumo
como elemento de identidade.
.
A adoção de uma
contra-identidade antes mesmo de o jovem considerar a possibilidade de
começar a fumar (como a do consumidor adolescente bem informado, que não
confia nas empresas de cigarros, conforme se viu na peça publicitária
veiculada recentemente pela Legacy Foundation) talvez seja mais eficaz no
combate ao fumo do que as campanhas tradicionais baseadas no raciocínio
analítico (como nas mensagens de risco à saúde da propaganda contrária ao
cigarro)”, afirma o estudo. O que o estudo oferece aos representantes e
gerentes?: - Sua identidade pode afetar o modo como você, representante ou
gerente, enxerga os problemas, diz Bolton.
Se você é da área de marketing,
acha que precisa de mais publicidade. Se é da área de finanças, acha que
precisa de mais investimentos.
Isso me levou a pensar sobre o
desafio que é reconciliar estes diferentes pontos de vista dentro da
empresa. Também me fez pensar que o simples fato de ser uma pessoa atuante
no mundo dos negócios proporciona, na verdade, uma identidade
excepcionalmente forte para muita gente. Uma identidade forte torna mais
difícil pensar sobre outros pontos de vista possíveis, que é justamente do
que você mais precisa como representante ou gerente. O pensamento tangido
pela identidade, afirma o estudo, “pode levar a percepções e expectativas
tendenciosas a respeito dos clientes e da concorrência, resultando em
previsões excessivamente confiantes sobre as possibilidades de sucesso no
mercado.
A obstinação nem sempre é
ruim, prossegue Bolton. Às vezes, é bom persistir na estratégia adotada
ou mesmo insistir na primeira impressão desde que seja correta. Contudo,
o comportamento obstinado é ruim se nos tira do caminho que devemos
seguir e nos impede de nos adaptarmos às novas informações em nosso
meio.
Por outro lado, nossa pesquisa
analisa também meios que nos permitem mudar ou excluir a parcialidade do
nosso julgamento por exemplo, fazendo com que as pessoas adquiram um
raciocínio mais analítico, que pesem mais os prós e os contras, ou que
adotem contra-identidades. Espero que algumas destas ferramentas sejam úteis
e permitam derrotar a obstinação própria de um primeiro julgamento e que, em
última análise, ajudem representantes, gerentes e consumidores a tomar
decisões mais acertadas.
Lisa E. Bolton
-
Americus Reed
.
biblioteca exclusiva da univ.
wharton
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