Antoine
Marie Roger de Saint Exupery
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escritor
e aviador - Nasceu em 29 de junho de 1900 em Lyon
- FRANÇA..
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Dizem
que a morte branca, a morte por congelamento, é uma morte doce. - Uma
espécie de torpor, cheio de sensações agradáveis, em que se
encontra, inclusive otimista. Guillaumet, o sabia. Não lhe custava
nada deixar-se estar, se recostar sobre o manto gelado, não levantar-se
depois de uma queda, dizer: - Já basta, se acabou, e não voltar a
intentar-lo de novo.
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A
história é de Antoine de Saint-Exupéry, em "Terra dos
homens", onde narra a aventura de um piloto cujo avião tinha se
acidentado nos Andes, e que depois de uma incrível travessia, apareceu
destroçado mas vivo, quando todo o mundo havia perdido a esperança.
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Aquele homem tinha um monte de razões para deixar de lutar pela
salvação. - Não conhecia o caminho, estava perdido, machucado,
golpeado, com fadiga e extenuado de cansaço. Derrubado a cada passo
pela tormenta, em uma zona onde se dizia "LOS
ANDES EN INVIERNO, no devUELVEN LOS HOMBRES". -
"Fiz o que podia, já não tenho esperança, porque continuar neste
martírio?" Lhe bastava fechar os olhos para apagar do mundo as
rochas, o gelo e a neve. E não haveria mais golpes nem quedas, nem músculos
doloridos, nem tempestades abrasadoras, nem esse peso da vida que tinha
que arrastar tão dificilmente.
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Mas
Guillaumet pensa em sua mulher, seus filhos, companheiros. Quem poderia
manter a sua família, que lhe aguardava em algum lugar da França se
ele parasse? Não, não podia lhes falhar. Eles o queriam, aguardavam, o
esperavam. O que aconteceria se a sua mulher soubesse que ele estava
vivo? - "Minha mulher e meus filhos acreditam que estou vivo, crêem
que caminho. Meus companheiros acreditam também. Todos tem confiança
em mim, eu sou um canalha se não caminho." Quando voltava a cair
ou quando as pernas se negavam a avançar, mais repetia essas palavras.
Quando todos os ossos de seu corpo gemiam entorpecidos pelo frio e pelo
cansaço; quando depois de cair voltava a se levantar como em um
carrossel que não acabava nunca, voltava a repetir o mesmo verso: -
"Se acreditam que estou vivo, se acreditam que caminho, serei um
canalha se não continuar".
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Quando o encontraram, sua primeira frase foi como resumo de sua
tenacidade extraordinária: "O que fiz, lhe juro, nenhum animal o
teria feito". Saint-Exupéry comenta assim em sua obra: -
Esta é a frase mais nobre que conheço, uma frase que situa o
homem, que lhe honra, que restabelece as hierarquias verdadeiras.
Guillaumet está exausto e lhe oprime saber que é quase impossível que
chegue a encontrar alguém naquelas montanhas, indefere a voz do
esgotamento, que lhe incita a jogar-se no solo e renunciar. O animal só
suporta o esgotamento quando está incitado por impulsos básicos, como
o medo. - Embora o homem tenha multiplicado esses motivos, consegue
sobrepor-se e agüentar. Os valores que influenciam, sua consciência
podem ser sentidos, como acontece com os animais, mas também podem ser
pensados. Quando os sentimos, só experimentamos a sua atração ou sua
repulsa. Quando os pensamos, podemos ver o valor, mesmo que não
sintamos quase nada. - Se pudéssemos reger nosso comportamento por
valores pensados e não tão somente pelos valores sentidos. Se só pudéssemos
acomodar a nossa conduta ao que sentimos. Apesar do angustioso protesto
dos músculos, e de que só sentia cansaço, Guillaumet pôde pensar em
outros valores, ou recuperar em sua memória os valores vividos em
outras ocasiões e ajustar a eles o seu comportamento. Uma vez mais, o
espiritual se introduz no corporal, o amplia e o enriquece.
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Antoine
Marie Roger de Saint Exupery, escritor e aviador francês. Nasceu em 29
de junho de 1900 em Lyon. Órfão desde que tinha dois anos passou,
junto com seus quatro irmãos boa parte de sua infância no castelo de
seus avós maternos. Foi educado em escolas Jesuítas e mais tarde
estudou na Universidade de Friburgo, na Suíça. Obcecado pela
aviação desde muito jovem, cumpriu o serviço militar nas forças aéreas
francesas em 1921. Pressionado pela que então era sua prometida, deixou
a aviação dedicando-se à outros ofícios menos perigosos,entre eles
em um jornal, e descobre uma nova paixão: a escritura. Incapaz de
manter-se longe dos aviões em 1926 se formou piloto comercial, voando
novas rotas comerciais na Europa, África e América do Sul.
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Em
1928 escreve a sua primeira novela "Correio do Sul". Em 1931
conhece em Buenos Aires, Consuelo Suncin, a quem propõe mostrar-lhe a
cidade desde o ar e em pleno vôo, lhe assegura que se não aceita se
casar com ele, espatifaria o avião. Ela aceita e começa um tumultuado
casamento, marcado pelas infidelidades de ambos e foi neste ano que
publicou sua segunda novela "Vôo Noturno", que ganhou o prêmio
da Academia Francesa: - "Grand Prix".
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Intentando bater um recorde no trajeto "Nova York - Terra do
Fogo" (EUA a Argentina), sofre um acidente e aproveitando a
convalescença em Nova York, escreve o seu terceiro livro "Terra
dos Homens", onde mistura as suas recordações do norte da África
e da América do Sul como aviador. Também tem um enorme peso as reflexões
e as recordações em seu livro seguinte "Piloto de Guerra",
escrito durante a 2ª Guerra Mundial, no qual participou como piloto das
Unidades de Reconhecimento das tropas aliadas.
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Trás a invasão de França e a rendição do exército Gales, o
escritor se exila em Nova York. Sua casa se converte em ponto de
encontro dos intelectuais franceses e Espanhóis expatriados, como Dalí
e Juan Miró. Trata de voltar a incorporar-se ao exército, mas lhe
é negado a permissão como conseqüência de seu estado de saúde, pela
a quantidade de acidentes que havia tido e a sua avançada idade para
voar com 43 anos. Sente-se desmoralizado e escreve um de seus célebres
livros "Carta à um Refém" e "Carta ao General X" e
também escreveu a sua última novela "Cidadela", que viu a
luz uma vez falecido.
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Mas seu maior ganho literário, que o imortalizou e que tem sido
mundialmente lido e apreciado é o "Pequeno Príncipe", um
livro infantil para adultos, uma fábula para leitores de todas as
idades, uma alegoria e uma valorização da vida e da poesia, uma busca
dos valores do homem e dos mais puros sentimentos da alma, em pleno
clima de Guerra Mundial. Consegue superar recorde de vendas no mundo
todo e foi traduzido em todos os idiomas, depois de sua primeira edição
em 1943, que se fez em francês.
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Após conseguir ser readmitido no exército no ano de 1943
incorpora às tropas da França Livre. Em 31 de julho de 1944 o
comandante Saint-Exupéry, antes de despegar desde Córcega em uma missão
de reconhecimento, deixou escrito em sua mesa de trabalho: - "Se me
derrubarem não estranharei nada. O formigueiro do futuro me
assusta e odeio sua virtude robótica. Eu nasci para ser
jardineiro. Me despeço, Antoine de Saint-Exupéry". Nunca
regressou. Especulou-se a possibilidade de que poderia ter sido abatido
por um caça inimigo, uma falha mecânica e até inclusive o suicídio.
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