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Aquele
tatu-bola, nascido no "AREAL
DE ORURO NA BOLÍVIA",
costumava passar horas e horas atirado junto a uma pedras, onde o vento
cantava eternamente. É que o animalzinho tinha uma afeição musical
inegável. Ele sempre estava a espera das rãs começarem a cantar para
se deliciar com as lindas e harmoniosas músicas dos habitantes da
lagoa.
Nas tardes de chuva então, era um concerto atrás do outro, que as rãs
ofereciam em coro para os ouvintes. Os pequenos olhinhos do tatu,
ficavam úmidos de emoção e se acercava arrastando sua barriguinha, até
os charcos, onde as verdes cantantes ofereciam suas músicas.
"Oh,
se pudesse cantar assim, seria o animal mais feliz do altiplano",
exclamava o tatu-bola, enquanto se deleitava. - Mas as rãs não se
comoviam pela admiração que lhes tinha o tatuzinho, senão que até o
ignoravam por não entender a sensibilidade musical que ele tinha e lhe
respondiam: - Mesmo que venhas todas as noites até o fim da tua vida,
jamais aprenderás a cantar, porque não tens nascido com esses dotes...
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O
pobre tatuzinho humilde e resignado, escutava as frases cantadas pelas rãs,
mas não se incomodava, porque elas não falavam e sim entoavam as
frases, o que o tatu admirava pela harmonia e espírito musical que elas
davam.
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Um
dia o tatuzinho acreditou enlouquecer de alegria, quando uns canários
passaram presos numa jaula que um caçador conduzia. "Que delícia
esses cantos... Esses passarinhos amarelos e brilhantes, como que caídos
do sol", comoveram o tatuzinho, que quase como hipnotizado, começou
a segui-los sem que o caçador percebesse, e indo atrás deles,
arrastando-se pela areia durante léguas e léguas.
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As
rãs que tinham escutado o belo canto dos canarinhos, saíram para a
beira da lagoa e viram passar os lindos prisioneiros, que revoavam na
jaula cantando em desespero. - E comentaram presumidamente: - Esses
cantores são da nossa família, pois os canários são rãs com asas,
e recomeçaram seu concerto interrompido.
-¡Chist... Esperem! -disse uma delas: - Olhem a sonhador do tatu... Se
vai atrás da jaula. Agora pensa que pode aprender a cantar com um canário,
e riam... O tatu continuou a correr e correr atrás do caçador e dos pássaros,
até que as patinhas se lhe iam afinando, de tanto raspa-las contra a
areia.
"Que desgraça. Não posso caminhar mais e os músicos se vão",
lamentava-se! E ali ficou atirado o tatuzinho, até que o último dos
cantos mágicos, se perdeu ao longe...
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Já
era de noite quando retornava para sua toca. E ao passar próximo da
cabana de "MAMANI"
o feiticeiro, teve a idéia de falar-lhe, para lhe fazer um estranho
pedido.
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Compadre,
tu que tudo o podes e consegues, ensina-me a cantar como os canários,
pediu chorando.
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Qualquer pessoa que não fosse o feiticeiro, tivesse rido a gargalhadas
do tatu-bola, mas o feiticeiro Mamani levava muito à sério os pedidos
dos habitantes da região e com cara séria lhe repôs: - Eu posso te
ensinar a cantar melhor que os canários, que as rãs e que os grilos até,
mas tens que pagar... e será com a tua vida que te cobrarei.
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"Aceito
tua condição, mas ensina-me a cantar."
"Combinado. Cantarás a partir de amanhã cedo, mas esta noite
perderás a vida.
"Como ? ...Cantarei depois de morto?"
"Sim terá que ser assim!"
No dia seguinte, o tatuzinho amanheceu cantando, com voz maravilhosa,
nas mãos de um mágico. Quando este passava pouco mais tarde, pela
lagoa, as rãs ficaram mudas de assombro:
"Venham
todas! Que milagre! O tatuzinho aprendeu a cantar!...
Canta melhor que nós!...
E melhor que os pássaros!...
E melhor que os grilos!..."
E felizes pela música melodiosa do tatu-bola, seguiram atrás dele, que
convertido em "CHARANGO"
soltava sons e ritmos andinos, como nenhum outro instrumento o faz. -
Mas o que elas ignoravam, era que nosso amigo tatu-bola, como todo bom
artista, tinha dado a vida pela arte e pela música e até hoje continua
cantando....
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LENDA
DO FOLCLORE BOLIVIANO
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O
grupo musical Boliviano o "Urubamba", gravou umas das músicas
andinas mais famosas do folklore Latino: "El
Cóndor Pasa".
Se quiser escutar ela em MP3, pode baixar aqui e sentirem o som do
"Charango"
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CHARANGO:
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Instrumento
musical de 10 cordas, similar a um violão pequeno e produzido com a
carapaça do tatu-bola achado morto e "NUNCA
MATADO".
Suas cordas eram no início, feitas de tripa retorcida e trançada e foi
assimilado após introduzido pelos conquistadores espanhóis no século XV.
Desde então este instrumento acompanha as músicas e melodias
tradicionais andinas, como Bolívia, Peru, Chile, Venezuela e logo
alguns anos mais adiante, por influência cultural foi para a Argentina.
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O
charango é um importante representante Andino dos instrumentos de
cordas. Tendo características similares aos do violão, mantém uma
particularidade singular, que é sua caixa de ressonância feita com a
carapaça de um tatu-bola dissecado, que o faz diferente totalmente,
tornando-lo um autóctone instrumento dos Altiplanos
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As origens do "CHARANGO",
se remontam ao século XVI quando começava
a surgir a "Villa Imperial de Potosí" como conseqüência
do famoso Cerro Rico, em que abundava a Prata a tal extremo, em que
falava que com ela poderia-se construir uma ponte do metal precioso
desde Potosí a Espanha, fama que se estendeu por todo o mundo e
que em esses anos converteu a Potosí num centro cosmopolita de muita
importância em América, formando una metrópoles impressionante, de
aproximadamente 160.000 habitantes no ano de 1.610.
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Atraídos por essa riqueza que desfrutava Potosí, chegaram milhares de
forasteiros e aventureiros a procura de riqueza e fama, entre os quais
magníficos músicos e hábeis trovadores, que deleitavam ao povo pelas
noites e em dias festivos, com apresentações musicais pelas ruas,
teatros, serestas, praças e festas, convidando a participação geral,
onde cantavam e dançavam ao som dos violões.
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Existem eloqüentes testemunhos a cerca da veracidade deste fatos, como
as passagens escritas por Miguel de Cervantes em sua obra "Don
Quixote da Mancha", referindo-se em uma das suas passagens as
"riquezas de Potosí" - (1.615) Madrid, como o centro más
importante do mundo.
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